segunda-feira, 21 de novembro de 2011

I Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento (16, 17 e 18/11/11)


A I Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento contou com a presença de palestrantes de diversas áreas e saberes, dando à temática do encontro diferentes perspectivas de uma mesma problemática. Profissionais, graduandos, mestrandos, doutorandos e professores reuniram-se para a discussão de aspectos do contexto rural, abrangendo conceitos e estudos multidisciplinares: Ciências Sociais, Agronomia, Agroecologia, Engenharia Ambiental, Zootecnia, Nutrição, História, Geografia, Pedagogia, Gestão Ambiental e Assistência Social. Contou também com a presença de representantes de movimentos sociais, como indígenas, quilombolas, faxinalenses e trabalhadores rurais sem terra. O fato de ter ocorrido na Lapa, no Assentamento do Contestado, deu um caráter integrativo ao evento, pois a realidade que foi discutida estava presente o tempo todo, sendo muito produtiva a troca de experiências entre os  visitantes e os assentados, os quais apresentaram as instalações do assentamento, suas casas, cultivos, criações e métodos sustentáveis de produção e modo de vida.

 Os trabalhos apresentados no GT de SAN e Agroecologia mostraram a abrangência do conceito de SAN, pois profissionais de diversas áreas contextualizaram a SAN em seus estudos. 

1° trabalho apresentado: 

Abordou a agroecologia relacionada com a construção de mecanismos alternativos de mercado, propondo, através da construção social dos mesmos, um reequilíbrio de poderes. Leva em consideração o diálogo de saberes populares e sua multidimensionalidade, unindo conceitos de organização comunitária, banco de sementes e novas tecnologias de produção pela agroecologia. Quanto à comercialização dos produtos (citando a Rede Ecovida como integrante), busca-se o acesso de toda a população a preços justos, formas que priorizem a venda direta, valorização do mercado interno e aproximação entre consumidor e agricultor, reconstruindo a sociabilidade e racionalidade socioeconomica. Como resultados da pesquisa, após o inserção da agroceologia, dados apontaram aumento de mercados acessados, produtos comercializados, frequência de pagamentos - relatado por agricultores como um grande ponto positivo -, e porcentagem de produção para associação/cooperativa local, além da abrangência no cultivo de novos produtos, resultados que ofereceram maior autonomia e renda aos agricultores.

2° trabalho apresentado:

Teve como tema o papel das feiras na diversificação de produção de agricultores de base ecológica,  inserido no projeto de extensão que ficou conhecido como Projeto Feiras. Como contextualização, falou-se da crescente inserção de produção orgânica no mercado, inclusive modificações do próprio mercado consumidor: aumento de número de consumidores e exigências do mercado quanto às técnicas de produção e diversidade de produtos, sendo um desafio aos agricultores. Dentro do projeto, foi realizada detecção de problemas e capacitação de agricultores, visando a eliminação de intermediários (que controlam preços e datas de entrega), aumento da autonomia e qualidade de vida de agricultores, oferecendo preços acessíveis aos consumidores. Como resultados do projeto, observou-se que parte da produção está sendo direcionada às feiras (divisão com PAA, PNAE, intermediários e supermercados). Houve melhora no contato consumidor-agricultor, pois através da proximidade que a feira proporciona, é possível o diálogo que aborda exigencias do consumidor, ao mesmo tempo que o produtor pode explicar limitações da produção (como clima e sazonalidade).

3° trabalho apresentado:

Estudo sobre o PAA no Vale do Ribeira, em Rio Branco do Sul, projeto o qual realizou a capacitação de agricultores, objetivando a construção mútua de saberes e desenvolvimento da agricultura familiar. Durante a apresentação,  vários pontos assemelham-se ao projeto Plantar, Colher, Comer e Nutrir, no que diz respeito ao panorama de organização dos agricultores e limitações do projeto, como dificuldade de informações chegarem aos agricultores, noção superficial sobre o funcionamento, regras básicas e a própria execução do programa, dificuldade em produzir em quantidade suficiente para o PAA, desconhecimento das entidades que recebem os alimentos, falta de reconhecimento político, entrave no processo entre agricultores e gestores públicos municipais e dificuldade no planejamento da produção. Apesar disso, houve ampla aceitação do programa por parte dos produtores, os quais relataram a contribuição do projeto para a volta do homem à terra, oferecendo uma oportunidade de renda fixa através da produção familiar, algo que não ocorria anteriormente, sendo o PAA uma ferramenta que contribui para o aumento da qualidade de vida, produção orgânica e conexão entre agricultores e órgãos públicos. 

4° trabalho apresentado

Apresentado por uma zootecnista, que estudou a interação da podução animal com a produção vegetal em propriedades de agricultores familiares ecológicos. O contexto apresentado foi o da Revolução Verde, a qual acarretou fatores prejudiciais para o pequeno agricultor, que sofre diretamente as desigualdades sociais causadas por essas modificações estruturais na produção de alimentos. A partir dessa problemática, apontou-se o aumento de estudos e iniciativas para produção sustentável, comércio justo e SAN, procurando o desenvolvimento de diferentes lógicas de gestão e estratégias de produção, como a troca entre agricultura e pecuária. Houve, na pesquisa, uma análise da interação entre produção animal e vegetal, através do acompanhamento dos trabalhos realizados nas propriedades, incluindo um diagnóstico geral das famílias pesquisadas: características comuns, tipo de mão de obra e utilização de equipamentos adaptados à realidade do pequeno produtor. A comercialização dos produtos foi feita através de feiras e pelo fornecimento ao PAA, tendo como resultado os benefícios diretos para o produtor, pois a diversidade de elementos na produção dá mais diversidade ao cosumo alimentar da própria família, além de haver entre as duas produções uma sustentabilidade, pela troca de materiais de compostagem e biofertilizantes. Com isso, há um manejo integrado de recursos (diminuindo o custo para o pequeno agricultor) diversidade de culturas e criações, preocupação com o meio ambiente e autonomia da família em relação ao mercado, dando meios alternativos para o incentivo da permanência do camponês no meio rural.

5° trabalho apresentado

Estudo realizado em um pré-assentamento, com o desenvolvimento de agroecologia sem nenhum tipo de incentivo financeiro (via Pronaf), feita e inserção no PAA e feiras. Lógicas de resistência e reprodução diferenciadas foram as fortes características do campesinato identificadas no grupo, com uma articulação dialética de comercialização, práticas de reciprocidade, através de ajuda mútua e construção de espaços e equipamentos coletivos. As dificuldades encontradas foram relacionadas a questões climáticas, resistências internas à agroecologia em assentamentos e movimentos sociais, havendo conflitos e contradições dentro do próprio movimento, muitas vezes por falta de informação e capacitação dos agricultores. Pela organização em sindicatos e cooperativas, modifica-se a relação com o mercado e questões internas, como diversidade de produção para o auto consumo, tema comum exposto em diversos trabalhos.

6° trabalho apresentado

Baseada na lei 11 947, o estudo apontou as novas diretrizes do PNAE e agricultura familiar: importância da intersetorialidade para implantação e execuções eficientes, buscando ações que motivassem o cumprimento das diretrizes. Para que haja êxito na execução, é preciso  diálogo entre sociedade civil e órgãos públicos, atuação dos conselhos municipais  e comprometimento de todos os setores envolvidos, para que ocorra o desenvolvimento social, econômico e cultural, meta proncipal das políticas públicas. O objetivo do trabalho foi analisar o desempenho intersetorial no desenvolvimento do PNAE, sendo apresentados como resultados os números: 67% dos municipios realizaram chamada pública para compra e concluiram a compra, enquanto que 16,5% apenas fez chamada pública, mas não concluiu o processo de compra da agricultura familiar. Apenas 1 município pesquisado adquiriu os 30% ou mais previstos na lei 11 947, 4 municípios adquiriram entre 20 e 29%, indicando que, no total, menos de 10% dos recursos do FNDE foram utilizados para a compra da agricultura familiar local. Observou-se a centralização de responsabilidades, onde em 83% dos casos, a Secretaria Municipal de Educação ficou responsável pelo processo de compra, havendo baixíssima participação de agricultores (em apenas 3 municípios). Os dados apontam os desafios a serem enfrentados: dificuldade de divulgar amplamente a legislação e seu conteúdo; necessidade de mobilização e controle social; organização dos agricultores no que diz respeito à produção, processamento e entrega dos produtos.

7° trabalho apresentado

O trabalho realizado teve como tema o mapeamento social de agroecologistas da região centro-sul do Paraná, sendo uma estratégia para fortalecimento da participação dos produtores no processo de transformação da realidade atual, aumentando a visibilidade da agroecologia. Relatos feitos por agricultores durante a pesquisa apontaram as grandes ameaças ao sucesso da agroecologia, como o setor madeireiro, fumicultura e plantação de soja, frutos do sistema latifundiário e monoculturista atual. Como resultado do mapeamento, os números levantados de agroecologistas na região centro sul foram muito maiores do que os dados oficiais obtidos em pesquisas do governo. 64% dos entrevistados não faz parte de nenhum grupo ou organização, o que deixa evidente os desafios a serem enfrentados, começando pelo reconhecimento e localização de produtores agroecológicos, proporcionando dados reais a orgãos responsáveis pela implantação de políticas públicas, de maneira efetiva.


Por Daniella Schuarts

Assentamento São Joaquim (22/10/11)



A reunião teve início pela manhã, na casa de uma das agricultoras do assentamento. O grupo reunido foi formado por agricultoras de diferentes associações: Grupo São Pedro, Gaiasol e Estrela Azul, alguns organizados há mais tempo e outros ainda em fase de desenvolvimento de projetos para construção de cozinhas comunitárias. Após apresentação de cada uma, foi abordado o tema da Segurança Alimentar e Nutricional, e a inclusão das agricultoras em programas como PAA e PNAE. Todas possuem DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf) e  fornecem para o PAA, mas desconheciam os valores superiores do fornecimento ao  PNAE (o dobro do pagamento do PAA: de 4500 reais/ano para 9000 reais/ano para cada agricultor), sendo discutidas as possibilidades de crescimento de produção e melhoria na renda familiar, através da organização da produção, planejamento de safra e beneficiamento dos alimentos. Colocou-se em pauta a importância do papel dos pequenos agricultores na melhoria da alimentação escolar, muitas vezes sendo os consumidores da merenda os próprios filhos e netos das associadas. Muitas relataram sua preocupação com a permanência dos jovens no campo, encontrando, na inserção a esses programas, um incentivo para o interesse dos mais novos em haver uma continuidade do negócio dos pais. As mulheres pretendem fornecer produtos de panificação, massas e compotas de frutas, e, para um projeto futuro, como próximo passo, construir uma infra estrutura necessária para a produção de derivados do leite, como iogurtes e queijos, sendo algo que exige maior investimento em maquinários e tecnologias de produção. Esta demanda por derivados do leite nos encaminha para uma nova etapa de planejamento, para que possamos desenvolver materiais que orientem, de maneira clara e objetiva, sobre as particularidades desse tipo de produção, sendo algo promissor, pois o grupo Estrela Azul já realiza a produção leiteira e fornece para algumas empresas. Após a pausa para o almoço, teve início a segunda etapa da visita, sobre Boas Práticas de Fabricação de alimentos, abordando dúvidas frequentes sobre diversos assuntos relativos ao armazenamento, higienização e conservação de produtos. Houve grande participação do grupo, uma oficina em forma de conversa onde todas tiveram oportunidade de falar e questionar sobre dúvidas, levando a informação de maneira leve e gostosa. Ao final da reunião, a maioria deu seu relato do que achou do dia e das discussões, sendo muito satisfatório e animador pela receptividade com que fomos recebidas e a impressão de que os grupos realmente querem crescer, empreender e tornarem-se cada vez mais autônomos em seus negócios. Como reclamação recorrente em várias comunidades, na reunião do assentamento São Joaquim falou-se muito das dificuldades da vida no campo pela falta de investimentos do governo em infra-estrutura básica, mostrando o estado de decadência das vias (se é que podem ser chamadas de estradas) que levam às comunidades, prejudicando o transporte escolar e de produtos fornecidos ao PAA. Isso evidencia um dos desequilibrios encontrados nas estruturas economico-sociais do país, que levam a vários fatores que dificultam a vida do agricultor familiar.

Por Daniella Schuarts

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Faxinal do Salso, Quitandinha - PR

Ao chegarmos na comunidade faxinalense do Salso, organizou-se a reunião entre os moradores e nós, visitantes. O registro integral das discussões foi feito com uma câmera filmadora, o que possibilita a obtenção de grande quantidade de informações. Inicialmente, a conversa teve como objetivo elucidar aos agricultores e agricultoras as possibilidades de inserção em políticas e programas governamentais como o PNAE  e PAA que proporcionem o aumento da renda familiar, ressaltando o contexto e definição de DHAA e SAN, dada a grande importância desses conceitos na relação com a melhora na qualidade de vida dessa população. Notou-se grande falta de informação por partes dos moradores, pois poucos sabiam da existência de linhas de crédito oferecidas pelo governo para o financiamento e fortalecimento da agricultura familiar, como exemplo o PRONAF. Desconhecem, consequentemente,  o credenciamento a esse programa, a Declaração de Aptidão ao Pronaf e a documentação necessária para participação neste e em outros programas governamentais. Não há, por parte de qualquer entidade, preocupação em conscientizar e informar aos moradores rurais seus direitos e possibilidades de crescimento, o que agrava a atual situação do homem no campo: falta de perspectivas na melhora da qualidade de vida. Foi exposta também a  Lei Federal 11.947, a qual reserva à agricultura familiar pelo menos 30% da renda do município dirigida à merenda escolar. Foi explicitada a importância da comercialização dos alimentos produzidos, que comumente eram desperdiçados ou serviam como alimentação para os animais, inclusive a vitalidade de agregar valor a esses produtos, através de processos de melhoramento, oferecidos na oficina prática. Ao longo da reunião, os rostos surpresos transformaram-se em rostos esperançosos diante tantas possibilidades, e logo houve uma grande mobilização por parte dos moradores. Os homens reuniram-se para o planejamento de uma horta coletiva, sendo examinado o melhor local para a implantação da infra-estrutura necessária. As mulheres iniciaram a organização de uma festa junina para a arrecadar  recursos necessários à construção de um barracão, o qual abrigará uma cozinha comunitária, além de ser um local para reuniões do faxinal. Na oficina prática, foram feitas receitas previamente selecionadas, que fossem compatíveis com os alimentos produzidos pela comunidade: pão de abóbora, pão de pinhão e geléia de laranja. Houve grande interesse e participação de todos nas etapas da preparação, inclusive por já existir parte do maquinário necessário para o melhoramento da produção familiar. Ao final da tarde, a reunião concluiu-se com um café, sendo provados os pães e doces feitos por todos. A impressão que fica é de que o Faxinal do Salso possui grande potencial e perspectivas de crescimento como um todo, dado ao grande interesse demonstrados pelos moradores.
Por Daniella Schuarts

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da motivação a união

Município: Teixeira Soares
Comunidade: São Joaquim 

   No dia 20 de agosto, visitamos o assentamento do MST (Movimento dos Sem Terra) em São Joaquim que existe há 24 anos. A maioria das famílias estava presente durante a ocupação, porém outras chegaram alguns meses depois.
A ASSIS (Associação dos Grupos de Agricultura Ecológica São Francisco de Assis) realiza um trabalho com 70 famílias da comunidade, a qual se dividem em 3 grupos chamados de Estrela Azul, GAESOL (Grupo de Agricultores Ecológicos do Sol da Liberdade) e São Pedro. Fazem 8 anos eles mudaram da produção convencional para agroecológica. Com a ajuda da ASSIS os grupos Estrela Azul e GAESOL possuem projeto podendo assim comercializar seus produtos para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), apenas o grupo São Pedro ainda não possui projeto, pelo fato de ter sido criado depois dos outros grupos, o que inviabiliza a venda de seus produtos para o PAA. Ambos já dispõem da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). 
A riqueza de alimentos produzidos é um ponto forte da comunidade, são eles: amora, pêssego, laranja, ameixa, mexerica, uva do Japão, pepino, abobrinha, abóbora, mandioca, batata-doce, inhame, feijão, milho, quiabo, pimentão, tomate, cenoura, couve, alface, mostarda, repolho, couve-flor, brócolis, almeirão, rúcula, vagem, chuchu, alho, salsinha, cebolinha, espinafre. Foi relatado um grande interesse em aprender a fazer: doces, geléia de amora, conservas (principalmente de milho), massa de tomate, pães enriquecidos, doce de leite e outros derivados de leite.
 Alguns agricultores fabricavam e entregavam pães, bolachas e macarrão, contudo a produção teve que parar, pois eles não possuem uma cozinha que seja adequada às normas da ANVISA. Devido a isto à produção foi inviabilizada, fazendo com que se perdesse a união que existia entre eles.
    Muitas pessoas haviam sido informadas do encontro, no entanto poucas pessoas compareceram para a conversa que Islandia conduziu explicando o intuito do Projeto. No início as pessoas estavam acanhadas, mas conforme se seguiu o diálogo começaram a interagir e a expressar suas opiniões. Apesar de meio inseguros por não saber ao certo do que se tratava, ao final da conversa foi observado um bom interesse dos agricultores presentes em participar do projeto, pois eles mesmos relataram que talvez seja essa a chance de unir mais os grupos e buscar melhorias para todos. De modo que o tempo utilizado para esta conversação foi estendido, e não achando conveniente a apresentação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) esta foi deixada para o próximo encontro considerando assim que será mais bem compreendida e útil.
Após a oficina no caminho de volta para Curitiba com o pôr-do-sol a iluminar nossos olhos e pensamentos, ainda refletindo sobre os acontecimentos do dia estávamos a nos questionar sobre os reais motivos da desmotivação encontrada no assentamento. As conclusões as quais chegamos foram estas: Será que a sensibilização feita a estas pessoas esta sendo de forma adequada? Ou será que esta se impondo a presença do projeto? Durante estes 24 anos de assentamento houveram outros projetos desenvolvidos que de alguma maneira deixaram uma bagagem de decepções e desilusões?.
Tantos questionamentos e tão vagas respostas. Mas a resposta que gostaríamos é: A sensibilização esta sendo feita de forma consciente e sem pressão para que a participação dos agricultores no projeto seja sincera e espontânea. Que eles mesmos possam ver, crer e sentir que a semente que estamos tentando plantar hoje pode levar um tempo para dar frutos, mas se não for pra que eles sejam colhidos por nós então que sejam por aqueles que viram.
Por Adriella Camilla Furtado e Sandy Souza

"Nenhum minuto é perdido."

Município: Rio Azul
Comunidade: Beira-Linha

       Apesar da chuva contínua e das dificuldades com os quais nos deparamos nesta sexta feira (19/08/2011), em nós estava à semente da esperança de que tudo daria certo, pela perseverança conseguimos enfim chegar a Comunidade Beira-linha. Tivemos a grata surpresa de saber que um grupo de agricultoras da comunidade havia começado a processar e comercializar alguns produtos (cuca – pão doce, pão, espera marido – bolinho doce e bolacha) para a vizinhança. Estávamos lá com o intuito de realizar a segunda etapa do projeto: o Processamento de Alimentos. E esta novidade nos deixou ainda mais animadas.
       Na cozinha comunitária existe uma infra-estrutura bastante razoável com vários utensílios: cilindro, balança digital, fogão industrial, mesas com superfície em inox, embaladora a vácuo, além disso, mesmo não dispondo de recursos para maiores investimentos, as pessoas usam da sua criatividade para cumprir com as exigências (como substituir a utilização de um rolo de macarrão por uma garrafa de vidro).
       Durante a tarde as agricultoras, auxiliadas pelas acadêmicas, realizam as seguintes preparações: doce de batata-doce, bolacha de cenoura, pão de mandioca, pão de abóbora e sementes de abóbora torradas com a ajuda de todas as agricultoras presentes. A princípio seriam feitas apenas duas receitas, mas ao consultar as agricultoras sobre quais gostariam de preparar, empolgadas disseram: “Todas!!!”. Superando as expectativas, prontamente se mobilizaram e tão logo já estavam com as mãos na massa.
       A elaboração das receitas é sempre criada de forma a se utilizar o mínimo de utensílios possíveis ou os mais comuns, pois nunca sabemos quais serão os equipamentos encontrados nas comunidades. Apesar de possuírem um cilindro, as agricultoras optaram por proceder da mesma maneira com a qual as receitas haviam sido testadas, pois argumentaram que se utilizassem o cilindro precisariam acrescentar mais farinha modificando assim a receita original. No entanto nos deparamos com a falta de um rolo de macarrão para abrir a massa, e no improviso elas usaram uma garrafa de vidro e um pedaço de madeira em forma de cilindro. Neste momento as alunas entraram em um conflito interno, por que ficaram na dúvida se esta atitude seria higienicamente correta, entretanto deu-se continuidade a prática sem delongas. Contudo foi salientado que para vender os produtos este improviso não poderia ser repetido por não ser seguro a saúde do consumidor.
       Todas as receitas ficaram ótimas com a exceção do pão de abóbora, que por um erro das duas acadêmicas que não pesaram as 9 gramas de sal, mas apenas seguiram a cartilha (feita pelas mesmas) que continha um equivoco ao indicar que este peso corresponderia a 4 colheres (sopa) rasa, sendo na realidade equivalente a 1 colher (sopa) rasa acabou ficando mais salgado do que o esperado. Ao final da oficina surgiram alguns questionamentos, por parte das agricultoras e agricultores, muito interessantes como a substituição da cenoura por beterraba ou couve, para que a bolacha fique colorida e esse seja mais um ponto forte pra sua utilização na alimentação escolar. Ao que diz respeito sobre o doce de batata-doce foi sugerido por uma das agricultoras que este poderia ter ficado mais tempo no fogo tornando-se mais consistente (doce de corte).
       Foram deixadas apenas 2 copias da cartilha de Processamento de Alimentos (Módulo 2) com as agricultoras, pois devido a imprevistos não pudemos fazer as demais copias.
     Finalizamos a oficina com um momento no qual quem desejasse poderia fazer alguma consideração do dia, a frase mais interessante foi: “Nenhum minuto é perdido, porque apesar destes passarem e não poderem voltar o que se aprendeu enquanto estes iam passando, se leva para vida toda”.

Por  Adriella Camilla Furtado e Sandy Souza