segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da motivação a união

Município: Teixeira Soares
Comunidade: São Joaquim 

   No dia 20 de agosto, visitamos o assentamento do MST (Movimento dos Sem Terra) em São Joaquim que existe há 24 anos. A maioria das famílias estava presente durante a ocupação, porém outras chegaram alguns meses depois.
A ASSIS (Associação dos Grupos de Agricultura Ecológica São Francisco de Assis) realiza um trabalho com 70 famílias da comunidade, a qual se dividem em 3 grupos chamados de Estrela Azul, GAESOL (Grupo de Agricultores Ecológicos do Sol da Liberdade) e São Pedro. Fazem 8 anos eles mudaram da produção convencional para agroecológica. Com a ajuda da ASSIS os grupos Estrela Azul e GAESOL possuem projeto podendo assim comercializar seus produtos para o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), apenas o grupo São Pedro ainda não possui projeto, pelo fato de ter sido criado depois dos outros grupos, o que inviabiliza a venda de seus produtos para o PAA. Ambos já dispõem da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). 
A riqueza de alimentos produzidos é um ponto forte da comunidade, são eles: amora, pêssego, laranja, ameixa, mexerica, uva do Japão, pepino, abobrinha, abóbora, mandioca, batata-doce, inhame, feijão, milho, quiabo, pimentão, tomate, cenoura, couve, alface, mostarda, repolho, couve-flor, brócolis, almeirão, rúcula, vagem, chuchu, alho, salsinha, cebolinha, espinafre. Foi relatado um grande interesse em aprender a fazer: doces, geléia de amora, conservas (principalmente de milho), massa de tomate, pães enriquecidos, doce de leite e outros derivados de leite.
 Alguns agricultores fabricavam e entregavam pães, bolachas e macarrão, contudo a produção teve que parar, pois eles não possuem uma cozinha que seja adequada às normas da ANVISA. Devido a isto à produção foi inviabilizada, fazendo com que se perdesse a união que existia entre eles.
    Muitas pessoas haviam sido informadas do encontro, no entanto poucas pessoas compareceram para a conversa que Islandia conduziu explicando o intuito do Projeto. No início as pessoas estavam acanhadas, mas conforme se seguiu o diálogo começaram a interagir e a expressar suas opiniões. Apesar de meio inseguros por não saber ao certo do que se tratava, ao final da conversa foi observado um bom interesse dos agricultores presentes em participar do projeto, pois eles mesmos relataram que talvez seja essa a chance de unir mais os grupos e buscar melhorias para todos. De modo que o tempo utilizado para esta conversação foi estendido, e não achando conveniente a apresentação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) esta foi deixada para o próximo encontro considerando assim que será mais bem compreendida e útil.
Após a oficina no caminho de volta para Curitiba com o pôr-do-sol a iluminar nossos olhos e pensamentos, ainda refletindo sobre os acontecimentos do dia estávamos a nos questionar sobre os reais motivos da desmotivação encontrada no assentamento. As conclusões as quais chegamos foram estas: Será que a sensibilização feita a estas pessoas esta sendo de forma adequada? Ou será que esta se impondo a presença do projeto? Durante estes 24 anos de assentamento houveram outros projetos desenvolvidos que de alguma maneira deixaram uma bagagem de decepções e desilusões?.
Tantos questionamentos e tão vagas respostas. Mas a resposta que gostaríamos é: A sensibilização esta sendo feita de forma consciente e sem pressão para que a participação dos agricultores no projeto seja sincera e espontânea. Que eles mesmos possam ver, crer e sentir que a semente que estamos tentando plantar hoje pode levar um tempo para dar frutos, mas se não for pra que eles sejam colhidos por nós então que sejam por aqueles que viram.
Por Adriella Camilla Furtado e Sandy Souza

"Nenhum minuto é perdido."

Município: Rio Azul
Comunidade: Beira-Linha

       Apesar da chuva contínua e das dificuldades com os quais nos deparamos nesta sexta feira (19/08/2011), em nós estava à semente da esperança de que tudo daria certo, pela perseverança conseguimos enfim chegar a Comunidade Beira-linha. Tivemos a grata surpresa de saber que um grupo de agricultoras da comunidade havia começado a processar e comercializar alguns produtos (cuca – pão doce, pão, espera marido – bolinho doce e bolacha) para a vizinhança. Estávamos lá com o intuito de realizar a segunda etapa do projeto: o Processamento de Alimentos. E esta novidade nos deixou ainda mais animadas.
       Na cozinha comunitária existe uma infra-estrutura bastante razoável com vários utensílios: cilindro, balança digital, fogão industrial, mesas com superfície em inox, embaladora a vácuo, além disso, mesmo não dispondo de recursos para maiores investimentos, as pessoas usam da sua criatividade para cumprir com as exigências (como substituir a utilização de um rolo de macarrão por uma garrafa de vidro).
       Durante a tarde as agricultoras, auxiliadas pelas acadêmicas, realizam as seguintes preparações: doce de batata-doce, bolacha de cenoura, pão de mandioca, pão de abóbora e sementes de abóbora torradas com a ajuda de todas as agricultoras presentes. A princípio seriam feitas apenas duas receitas, mas ao consultar as agricultoras sobre quais gostariam de preparar, empolgadas disseram: “Todas!!!”. Superando as expectativas, prontamente se mobilizaram e tão logo já estavam com as mãos na massa.
       A elaboração das receitas é sempre criada de forma a se utilizar o mínimo de utensílios possíveis ou os mais comuns, pois nunca sabemos quais serão os equipamentos encontrados nas comunidades. Apesar de possuírem um cilindro, as agricultoras optaram por proceder da mesma maneira com a qual as receitas haviam sido testadas, pois argumentaram que se utilizassem o cilindro precisariam acrescentar mais farinha modificando assim a receita original. No entanto nos deparamos com a falta de um rolo de macarrão para abrir a massa, e no improviso elas usaram uma garrafa de vidro e um pedaço de madeira em forma de cilindro. Neste momento as alunas entraram em um conflito interno, por que ficaram na dúvida se esta atitude seria higienicamente correta, entretanto deu-se continuidade a prática sem delongas. Contudo foi salientado que para vender os produtos este improviso não poderia ser repetido por não ser seguro a saúde do consumidor.
       Todas as receitas ficaram ótimas com a exceção do pão de abóbora, que por um erro das duas acadêmicas que não pesaram as 9 gramas de sal, mas apenas seguiram a cartilha (feita pelas mesmas) que continha um equivoco ao indicar que este peso corresponderia a 4 colheres (sopa) rasa, sendo na realidade equivalente a 1 colher (sopa) rasa acabou ficando mais salgado do que o esperado. Ao final da oficina surgiram alguns questionamentos, por parte das agricultoras e agricultores, muito interessantes como a substituição da cenoura por beterraba ou couve, para que a bolacha fique colorida e esse seja mais um ponto forte pra sua utilização na alimentação escolar. Ao que diz respeito sobre o doce de batata-doce foi sugerido por uma das agricultoras que este poderia ter ficado mais tempo no fogo tornando-se mais consistente (doce de corte).
       Foram deixadas apenas 2 copias da cartilha de Processamento de Alimentos (Módulo 2) com as agricultoras, pois devido a imprevistos não pudemos fazer as demais copias.
     Finalizamos a oficina com um momento no qual quem desejasse poderia fazer alguma consideração do dia, a frase mais interessante foi: “Nenhum minuto é perdido, porque apesar destes passarem e não poderem voltar o que se aprendeu enquanto estes iam passando, se leva para vida toda”.

Por  Adriella Camilla Furtado e Sandy Souza